Goste-se ou não, Jorge Jesus tornou-se no treinador mais
pragmático do Benfica desde Eriksson, o que diz muito, ao contrário do que
possa pensar.
Muitos dirão: não é difícil tendo em conta que a pior fase
do Benfica regista-se sensivelmente nos últimos 20 anos.
Neste momento com o primeiro lugar no campeonato, final da
Taça de Portugal e meias-finais de uma competição europeia, Liga Europa, nós
temos que recuar até à distante época de 82/83 para encontrar semelhante feito,
na primeira vinda de Eriksson para o Benfica.
O céu está tão perto e no entanto, um pequeno deslize e
estamos no inferno.
Para todos os efeitos, o meio termo será muito subjectivo
dada a forma de como se encontra o Benfica neste momento: tudo é possível mas
nada temos. Tudo ou nada, 8 ou 80, céu ou inferno.
Para nós benfiquistas e para Jorge Jesus, como técnico.
O que dizer se nada ganharmos?
O quer dizer se ganhamos apenas uma competição?
Duas?
E o triplete?
De facto, Até para Jesus e o saldo no Benfica, esta época
pode ser determinante. Senão vejamos…
Em três épocas: um campeonato e três taças da liga. Pouco?
Provavelmente mas o que dizer de um clube que pré-Jesus, simplesmente tinha um
campeonato ganho, em 2003/2004 e antes disso, 1993/1994, isto no Benfica das
trevas e devo dizer que o campeonato de 2003/2004 foi sorte, sim sorte, porque a
Coreia do norte vivia a ressaca pós-Mourinho e o campo grande estava num
patamar ligeiramente superior mas treinado por Peseiro. Na altura Trapattoni,
pegava numa equipa e fez um onze, mediante as poucas possibilidades que tinha.
O campeonato de 2009/10 ganho por Jesus fora o primeiro
desde 93/94 a ser ganho de forma indiscutível: o melhor ataque e a melhor
defesa.
10/11: o pior arranque de sempre do Benfica e os andrades a
ganharem o campeonato na Luz, eliminando mas meias-finais por braga. Devo
recordar apenas o arranque inicial miserável do Benfica com 8 amarelos, sim 8,
que o Benfica teve no jogo com o Guimarães, entre outra s peripécias típicas do
futebol português, logo nas primeiras jornadas. Rapidamente o Benfica ficou
arredado da luta pelo título.
11/12:O problema da época anterior foi o facto de em momento
decisivo, haver uma penalidade convertida em falta ofensiva em Coimbra e o golo
dos andrades em fora-jogo, no embate com Benfica em pleno estádio da Luz a dar
a vitória aos andrades. Provavelmente estaria aqui mais 4 pontos para o Benfica
e 2 para os andrades, isto só para falar nestes dois jogos. O único jogo no
qual achei que Jesus se espalhou ao comprido foi com o vitória de Guimarães,
encetando a primeira derrota para o Benfica nessa época.
Mas Jesus soube evoluir, de forma lenta, é um facto, mas
evoluiu: o único problema de Jesus, é Jesus ser um homem que vive
fundamentalmente da experiência que possui e por vezes é apanhado em contra-pé
quando algum jogo lhe foge da sua experiência e isso nota-se sobretudo nas
competições europeias:
Liverpool –Benfica 4-1
(09/10)
Benfica – Lyon
4-3 (10/11)
Schalke 04 – Benfica 2-0
(10/11)
Lyon – Benfica 2-0 (10/11)
Benfica – Chelsea 0-1
(11/12)
Os jogos deste época, a experiência veio mais ao de cima e
não nos mantemos na L.C simplesmente porque as saídas de Witsel e Javi ainda
estavam a fazer ressentir o plantel.
Mas curiosamente o Benfica nunca atingiu durante 4 anos
seguidos a ida a pelo menos aos quartos de final de uma competição europeia, o que
apesar de tudo ainda nos diz a consistência do Benfica.
Ao nível do campeonato, a consistência é enorme com 21
vitórias e 4 empates, sem derrotas: noutras edições da liga, o Benfica já seria
campeão nesta altura. E na minha opinião, só não faz melhor porque Vieira não
deixa: Javi saiu sem haver uma opção de raiz e com Witsel não havia muito para
fazer ao ser accionada a cláusula de rescisão dos 40M.
Alheio um pouco ou talvez sujeito aos negócios do futebol,
Jesus soube reinventar a equipa sem duas das peças fundamentais do plantel.
Hoje, Matic substituiu Javi e Witsel foi substituído por Enzo Perez.
Sim, houve os Emersons e os Robertos mas que moral tem o
Benfica quando chegou a ter Bossio, Bermudez, Pringle, Michael Thomas entre
muitas outras pérolas?
Sim, o Jesus, o técnico consegue ser teimoso, mas é uma boa
teimosia: ele percebe de futebol, tem a sua experiência e aprende com os erros
e com o seu quarto ano, temos a experiência, sabedoria e a estabilidade de
Jesus e isso não pode ser deitado fora. Devo lembrar que o Benfica tem que
lutar pelo seu lugar de direito mas tem de contar com os andrades que dão
cartas e continuaram a dar cartas nos próximos anos, embora o valor dessas
cartas comece a esbater. Não importa, o Benfica necessita de lutar, pressionar
e é com Jesus que deve faze-lo.
Com isto, nesta altura da época em podemos aspirar a muito
mas temos zero, é certo. No entanto preparemos o futuro do Benfica com Jesus.
Afinal Alex Ferguson esteve os primeiros quatro anos no Manchester United sem
nada ganhar e hoje em dia, é o que se sabe.
Conclusão: O Benfica já arriscou e ganhou mas também já
arriscou e perdeu. Arriscou e ganhou com Bela Guttman ou com Eriksson. E já
arriscou e perdeu muito mais vezes. A questão é a seguinte: das vezes que o
Benfica arriscou e ganhou, tinha espaço de manobra e estava por cima.
Actualmente, ainda não está: repito, ainda não. Falta um pouco e isso será com
Jesus. Um Benfica deste nível é difícil de arranjar. A renovação de Jesus não é
essencial mas é definitivamente a aposta segura.